domingo, 6 de setembro de 2009

Mediocridade

Oh desgraçado papel, vazio e sem vida
Tens o mundo em ti e tu não sabes...
Não, não és desgraçado
Desgraçado sou eu por deixar-me
Intimidar por tua face lânguida.
Pela ausência desse mundo que
Em ti não sou capaz de criar
Por que não te faço mundo?
Por que ousas com minha
Mediocridade brincar?
Faça-se genial verso fútil
Não se deixe morrer pelo
Ontem se torne o amanhã
Faça-se eterno.
[...]
E tu continuas a sorrir minhas faltas
Não sou o gênio que tu esperas
Tu não serás lido na posteridade
Serás enterrado antes de mim
E não sei quem sofre mais
Eu ou tu, nós?
Ambos seremos esquecidos numa gaveta
Seja do cemitério dos homens
Ou seja, no cemitério de poesias
Aquela minha cômoda guarda
Mil outros como ti (papel)
E tu se vingas, eis que acusas que
A gaveta que me aguarda (o cemitério)
Guardam também mil homens como eu
-Sem poesia, sem história, pessoas esquecidas!
Traídas pela gloria e que caíram
No esquecimento do tempo
- Os verdadeiros homens não são enterrados
São eles imortais que
Vivem de seus versos e em seus versos
E tu papel
Sepulta-me antes do momento!
Torna minha morte ainda mais amarga do
Que os que se encontram em gavetas frias
Tu não me ajudas: apenas sorrir-me
Limítrofe eu? Como ousas se Morreremos juntos, mas tu irás
Primeiro, ainda que isso
Signifique a minha sina também.
Em pouco tempo estarás esquecido
No fundo de uma gaveta
Esse será o seu fim, será o meu também.
Ensine-me a dar-te a vida necessária
Para que tu possas me sobrevir!
Seja como for tu estarás
Dentro de instantes esquecido No fundo de uma gaveta
Dentro de instantes!
Aguarde o esquecimento
Por que eu aguardo a minha gaveta
Eis o único fim que levamos
Medíocre Papel!
De quem é a maior desgraça?
Já estáis morta, infeliz poesia
E eu também por não dar-te a vida necessária!

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