segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Minha vida:

É preciso direcionar o olhar ao que é belo, a minha tarefa existencial é essencialmente estética!

domingo, 6 de setembro de 2009

Parafrase de Camus, João Batista Clemente

Na minha biblioteca há centanas de livros, todos lidos; na minha vida há dezenas de mulhres... livros lidos pela metade, mulheres mal possuídas.

Aedo: Eros e Phylia à Filosofia

Costumam lhe amar com os sentidos
Mas o amor é um pensamento: é a priori
Antes mesmo deu “vê-la” [ou conhecê-la]
Já em ti pensava

O amor não advém dos sentidos
Não vem contigo, ele não se "manifesta"
Aos sentidos...
É transcendentemente inato:
Sinto-lhe?
Não, pois nem sequer a conheço -nunca a vi!
Não sou digno de conhecê-la nem de vê-la
Alguém o foste?
[...]
Ingrata
Nunca destes-me o carinho necessário
Nunca me tratastes como um amante
Não me dás sentidos, roubas-me estes...
E bricas com eles:
Fizestes me ver com os ouvidos
E escutar com os olhos
[...]

Sempre me desprezastes
Teima em chamar-me apenas "discípulo"
Teimas em apontar minhas faltas
Ainda assim a amo...

[...] Não a vejo, e nunca a verei
Somente penso-te e isto basta-nos
Não a entendo, jamais a entendi
Nunca a entenderei

O amor não precisa de entendimento
É algo a priori
E o possuo cada vez que em ti penso

Eu não sei amá-la
Somente pensá-la
Eis que enquanto amante posso oferecer-lhe:
O meu pensamento
Aquilo que é supra-sensível e icognoscível a outros
Só tu és capaz de me entender!
Porque se tu nao o for ninguém mais o será
Deixo aqui as palavras e vou agora amá-la
Não é uma relação de amizade
É um Eros
Não te penso com a razão
Mas com poesia
Não te escrevo
A canto!
Não te suspiro
Lhe pulso...

Razão

É pelo Sentido que me guio no meu caminho:
A pele se arrepia!
E você me leva a razão.
E me dá mais sentido...
O perder o Sentido!
Regresso à razão, mas me falta o arrepio!
É o querer que me faz livre?
Não, não mesmo, são teus braços...
Que me prendem e me libertam... Dessa razão de tê-la em meu caminho sem Sentido e sem Razão;
Meu unico Sentido, qual é?
O arrepio!

Anima

Não quero teu corpo,
Me dê tua alma!
Quero lhe penetrar fundo
Não quero e não te encontro Alma
No olhar
Me dê o suspiro!
É onde a sinto e a encontro
Porque quando lhe penetro fundo
Ali me perco...
É para além do âmago...
Roubo-te o ar e ganho o desejo,
E o suspiro
Ah, a falta [de ar] (...)
A dificuldade do respirar
O salgado do suor e
O gemido do Gozo
Não, não os quero
Isso tudo tampouco me importa!
Não! Não o corpo
Não aspiro isso: Aspiro o infinito o ininteligível;
Aspiro o ar que te roubo!
Me dê tua alma pois
Que o corpo pertence ao Gozo!

Filosofia

Deus perdoou-me por não acreditá-lo. Já o neguei e fui perdoado, mas pelo que vejo em ti não poderei sê-lo...
O que tu me levas a ver constitui minha maior blasfêmia: “Deus não é perfeito”. Ao vislumbrá-la cheguei a essa conclusão: foi contigo que Ele cometeu seu primeiro “erro”, pois lhe deu maior quantidade daquilo que pode ser denominado “Belo”, lhe deu mais beleza e esta foi dada ao acaso, por um acidente, assim sendo, não foi só um erro que se cometeu, Ele também foi injusto: fez-lhe mais bela que as outras!
Fui perdoado por ser um ímpio, por ser blasfemador, mas por vê-la tão Bela não poderei ser remitido; Ele é grandioso, e consegue me afligir: tenho nos meus olhos o meu maior castigo.
Posso ser perdoado pela negação como pela falta de crença, mas não poderei sê-lo por ser um amante dos atributos e predicados do Belo daquilo que em ti vejo!
Tu nascestes com a beleza, fora feita ao acaso e eu por sabê-lo serei castigado mil vezes quando vê-la: pois a verei mil vezes, meu pecado é por ver o acidente Dele em ti... O pecado está nos seus atributos ( e nos meus olhos) e desse nao serei perdoado, está para além do pecado primeiro: todo pecado nasce do olhar e você me traz isso a tona, pois me ensinou a ver o mundo, nao me fez ver Deus no Mundo, mas em Ti mesma...

Necessidades Fisiológicas

"Meus pensamentos são minha indissincrasias" (Diderot), aqui vai, então, um pouco das minha necessidade mais básicas, minhas necessidades mais vitais: a filosofia é para mim como o respirar pra qualquer ser vivo, porém ela ainda me é mais vital, se o oxigenio enche os pulmões e dá vida às células, a filosofia também preenche estes e vai além; ela alimenta o corpo e dá oxigenio à alma! E minh'alma está sedenta por ar! Quanto mais ela o respira , mais falta dele sente ela, Alma incompleta, respirar ofegante, quanto mais te respiro mais me afogo, e nessa falta é que te sinto: afogado em teus ares, faço desses o sentido de viver. Quem pode viver sem o respirar? Eu também não o posso, é por isso que respiro filosofia, e faço dos meus pensamentos minhas indiossincrásias.

Perdas

Se te faltas algo ou se algo lhe fostes tirado, fortaleça aquilo que tu tens! A todos nós falta algo, só que uns sentem mais e outros menos. O que resta de ti é o que tens que fortalecer! Não lasimes o que se foi, apenas fortaleça e estime o que te ficas!

Trecho de um livro de T. Hardy

Hardy retoma um clássico tema: a paixão.
Quando Sue fechou os postigos, Judas reiniciou a sua solitária viagem de volta. "Que fotografia era aquela que ela estava olhando?" perguntou-se ele. Uma vez que lhe dera uma, sua. Mas Sue devia possuir outras, também. Contudo, seguramente devia ser a dele. -Pobre tolo! -
Sabia que voltaria a visitá-la, conforme o convite que lhe fizera. Aqueles homens sérios cuja vida lia, os santos, aqueles que Sue, com gentil irreverência, chamava os seus semideuses, teriam fugido de tais encontros, se duvidassem de suas forças. Mas ele, ele não podia. Poderia jejuar e rezar durante todo o intervalo, mas o humano era nele mais poderoso que o divino.

Mediocridade

Oh desgraçado papel, vazio e sem vida
Tens o mundo em ti e tu não sabes...
Não, não és desgraçado
Desgraçado sou eu por deixar-me
Intimidar por tua face lânguida.
Pela ausência desse mundo que
Em ti não sou capaz de criar
Por que não te faço mundo?
Por que ousas com minha
Mediocridade brincar?
Faça-se genial verso fútil
Não se deixe morrer pelo
Ontem se torne o amanhã
Faça-se eterno.
[...]
E tu continuas a sorrir minhas faltas
Não sou o gênio que tu esperas
Tu não serás lido na posteridade
Serás enterrado antes de mim
E não sei quem sofre mais
Eu ou tu, nós?
Ambos seremos esquecidos numa gaveta
Seja do cemitério dos homens
Ou seja, no cemitério de poesias
Aquela minha cômoda guarda
Mil outros como ti (papel)
E tu se vingas, eis que acusas que
A gaveta que me aguarda (o cemitério)
Guardam também mil homens como eu
-Sem poesia, sem história, pessoas esquecidas!
Traídas pela gloria e que caíram
No esquecimento do tempo
- Os verdadeiros homens não são enterrados
São eles imortais que
Vivem de seus versos e em seus versos
E tu papel
Sepulta-me antes do momento!
Torna minha morte ainda mais amarga do
Que os que se encontram em gavetas frias
Tu não me ajudas: apenas sorrir-me
Limítrofe eu? Como ousas se Morreremos juntos, mas tu irás
Primeiro, ainda que isso
Signifique a minha sina também.
Em pouco tempo estarás esquecido
No fundo de uma gaveta
Esse será o seu fim, será o meu também.
Ensine-me a dar-te a vida necessária
Para que tu possas me sobrevir!
Seja como for tu estarás
Dentro de instantes esquecido No fundo de uma gaveta
Dentro de instantes!
Aguarde o esquecimento
Por que eu aguardo a minha gaveta
Eis o único fim que levamos
Medíocre Papel!
De quem é a maior desgraça?
Já estáis morta, infeliz poesia
E eu também por não dar-te a vida necessária!